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Lia Assumpção

Então, é Natal

ECOA

22/12/2019 04h04

Então é Natal. Apesar da minha mãe todo ano tentar trazer a data para o campo do nascimento do menino jesus e os simbolismos que isso traz, minhas crianças estão esperando mesmo presentes. E eu sempre me pergunto se dá pra ser um consumidor consciente nessa época do ano. Minha amiga Giuliana me indicou um podcast muito interessante que tem essa pergunta no título. 

Fala-se bastante ali de uma pesquisa (do Instituto Akatu juntamente com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito) que é um Panorama do Consumo Consciente no Brasil e que apontou o brasileiro como, digamos, um consumidor no caminho do bem para esse futuro consciente. Vale ouvir para se identificar com os empecilhos listados ali para um consumo de fato consciente, que dialogam um pouco  com algo que acabo sempre abordando aqui: fazemos nossa parte como consumidores, mas indústria e poder público tem que fazer a sua, se não a coisa não vai.

A ideia aqui não é repetir o que foi dito ali, mas indicar o podcast* e me valer da pergunta do seu título para esboçar uma definição do termo, assim, como um material para ajudar na reflexão e na decisão de cada um nessa hora que parece que o mundo grita para você: compre! E o mundo grita isso para você numa  hora que você talvez esteja ali na retrospectiva do ano, talvez querendo agradecer de maneira sólida e material um monte de gente que te ajudou nesse ano que passou. Ou não. Mas enfim, por qualquer motivo, é uma época sabidamente consumista.

E eis que no site do Ministério do Meio Ambiente encontrei essa definição (transcrevo apenas uma parte): "Todo consumo causa impacto (positivo ou negativo) na economia, nas relações sociais, na natureza e em você mesmo. Ao ter consciência desses impactos na hora de escolher o que comprar, de quem comprar e definir a maneira de usar e como descartar o que não serve mais, o consumidor pode maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, desta forma contribuindo com seu poder de escolha para construir um mundo melhor. Isso é Consumo Consciente. Em poucas palavras, é um consumo com consciência de seu impacto e voltado à sustentabilidade."

No podcast isso é dito de uma outra maneira: consumo consciente é quando você adquire um produto tentando fazer um equilíbrio entre a sua satisfação pessoal, as questões ambientais, sociais e financeiras. Na sua decisão, conta também a origem e fabricação do produto adquirido e uma atenção com ele até a hora do descarte.

O Akatu é uma organização não-governamental que se dedica a espalhar o consumo consciente por aí. Para eles, no mesmo sentido que as definições das linhas acima, "consumo consciente não é deixar de consumir. É consumir melhor e diferente, levando em consideração os impactos deste consumo". Recomendo muito a visita ao site e me permito repetir aqui os dez tópicos que eles listam lá para os caminhos para a produção e o consumo conscientes: 1. O durável mais que o descartável; 2. A produção local mais que a global; 3. O compartilhado mais do que o individual; 4. O aproveitamento integral e não o desperdício; 5. O saudável nos produtos e na forma de viver e não o prejudicial; 6. O virtual mais que o material; 7. A suficiência e não o excesso; 8. A experiência e a emoção mais do que o tangível; 9. A cooperação para a sustentabilidade mais do que a competição; 10. A publicidade não voltada a provocar o consumismo.

Isso posto, conto um pouco da minha experiência na prática, a começar pela árvore de natal. Não gosto das árvores de plástico, por isso o único pinheiro que comprei na vida, segue lá em casa, mesmo que também não ame pinheiros. Já fiz uma árvore de papel, bidimensional. Adoro luzinhas, e também já espalhei elas pela casa simbolicamente e elas seguem morando lá em casa, ainda que tenham diversas luzinhas queimadas…

Já faz um tempo que meu filho ganhou um pinheiro bebê, de uma amiga querida. E cuidamos dele até ele virar nossa árvore de natal oficial. E acho que tem uns 3 anos que o pinheiro vem pra sala em dezembro, fica ali sofrendo com todas as bolinhas e estrelas que penduramos nele até janeiro, quando ele volta para a luz da varanda. Para além da sustentabilidade, cada vez que o pinheiro vem pra dentro de casa, nos lembramos da Luisa, que deu o pinheiro para o meu filho e anda viajando o mundo por aí deixando saudade em nós. 

Na parte dos presentes, cada ano que passa, tenho menos vontade de comprá-los; uma parte porque que gosto de dar presentes somente quando encontro algo que me lembra de alguém e não porque é "obrigado"; outra parte porque quanto mais me embrenho na seara do sustentável e vou me informando sobre os caminhos do lixo, mais eu fico pensando que se o presente não agradar, ele vira lixo e isso me aborrece. Normalmente prefiro plantas e livros para presentear porque entram na categoria do durável. E assim, ano a ano, vou tentando chegar mais perto do consumo consciente como um conceito total, sem recriminar nem ser chata com ninguém. Tá longe ainda, mas chegamos lá. 

* Quem quiser ouvir o podcast, que tem a entrevista com a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti e o Helio Mattar, do Instituto Akatu, recomendo fortemente: café da manhã –  a dias do natal, como ser um consumidor consciente?

Sobre a Autora

Lia Assumpção é designer, mestre em Arquitetura e Design pela FAU-USP, curiosa dos assuntos relacionados a consumo e sustentabilidade.

Sobre o Blog

Este blog é sobre consumo consciente porque nem tudo que é reciclável é reciclado. É escrito por uma designer, inquieta com a maneira como consumimos e descartamos coisas e crédula de que só uma iniciativa compartilhada entre indústria, poder público e consumidores conscientes pode alterar a lógica consumo-descarte vigente. A ideia aqui é falar sobre atitudes cotidianas, tentando um meio a meio entre reflexões e soluções práticas.